Último executivo da mineradora Icomi S.A. na era do Império CAEMI, o engenheiro paraense José Luís Ortiz Vergolino, 80, decidiu quebrar o silêncio e deu detalhes sobre a RENCA (Reserva Nacional do Cobre e Associados), que segundo ele pode ter todo tipo de minerais – menos o cobre propriamente dito.
Ortiz foi o responsável por fazer a transição do controle acionário da Icomi, em 2004, depois que os herdeiros do fundador da empresa, Augusto Trajano de Azevedo Antunes, decidiram se retirar dos negócios com mineração.
Em um documento que ele fez chegar à nossa Redação, o ex executivo admite que o perfil nacionalista de Antunes o fez ser sondado e depois até ter a preferência do governo militar para explorar a RENCA, que havia sido criada pelo presidente João Figueiredo, em 1984, para evitar que estrangeiros como Daniel Ludwgi – que se instalava no Jari – pudessem se habilitar a explorar a reserva de cobre.
A íntegra da manifestação de José Ortiz sobre a RENCA
RENCA – Síntese
CRIAÇÃO
A Reserva Nacional de Cobre e seus Associados – RENCA , foi criada em fevereiro de 1984 por decreto do presidente João Batista Figueiredo atendendo solicitação do presidente do Grupo Executivo para a Região do Baixo Amazonas – GEBRAM almirante Gama e Silva que visava com reserva impedir que áreas consideradas de grande potencial fossem adquiridas pelo americano Daniel Ludwig . (Há toda uma história a ser contada).
Pelo decreto, a pesquisa na área de 46.540 km2, entre Amapá e Pará passou a ser exclusividade da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM , órgão subordinado ao Ministério de Minas e Energia . O decreto estabelece também que concessões de áreas na região da Reserva seriam submetidas a consulta prévia do Conselho de Segurança Nacional.
Bilionário norte-americano Daniel Ludwig, fundador da Jari Celulose |
INTERESSE PELA ÁREA
O interesse pela área surgiu em 1969 com a presença da empresa CODIM. No mesmo ano chegou a empresa MEREDIONAL que dois anos antes havia descoberto as jazidas de Carajás no sul do Pará. A confirmação do gigantismo da província de Carajás estimulou a presença de grandes mineradoras internacionais no norte do Brasil.
Em 1971 o programa RADAM-BRASIL que fazia o mapeamento geológico da Amazônia decide trabalhar na região e convida a DOCEGEO e a ICOMI à participar e patrocinar as pesquisas.
A ICOMI requer áreas na região do Jarí e Parú e a DOCEGEO decide abandonar a região.
Em 1975 a ICOMI abandona a área que fica livre para novos requerimentos.
Em 1983 a BP faz requerimentos na região.
O almirante Gama e Silva descobre que Daniel Ludwig dono do projeto Jarí tem participação acionária na BP e “fantasia” que o requerimento da BP faz parte do plano de Ludwig dominar a região. O GEBAM tem assento no Conselho de Segurança Nacional e veta a concessão de alvarás à BP. O almirante Gama e Silva orienta a Vale (então estatal) a requerer as áreas tão logo os pedidos da BP sejam indeferidos o que realmente aconteceu. A BP recorre ao ministro Delfim Neto e avisa que se as forem concedidas à Vale ela (BP) entraria com ação contra o governo brasileiro por discriminação ao capital estrangeiro. Para evitar uma complicação enorme (internacional), o almirante pediu a criação da RENCA que aconteceu em fevereiro de 1984 e parece acomodar uma variedade grande de minérios e quase nenhum cobre.
Fundador da Icomi, empresário Augusto Trajano de Azevedo Antunes |
Como se vê, a criação da RENCA não objetivava a preservação de florestas e/ou o meio ambiente, tratava-se simplesmente de nacionalismo exacerbado e equivocado que retardou o progresso do Estado.
Nesses 33 anos a área da RENCA foi invadida por garimpeiros e pequenas empresas que contaminaram com mercúrio todos os cursos d’água da região.
A EXTINÇÃO DA RESERVA
Em dezembro de 2016, o presidente da CPRM Sr. Eduardo Ledsham, anunciou aos participantes do MINES & MONEY, em Londres, a maior conferencia e exposição de investimentos em mineração da Europa, algumas medidas em estudo para atrair recursos estrangeiros para o Brasil . Na ocasião, Ledsham afirmou que a RENCA, uma das últimas fronteiras de greenfield para deposito de ouro classe mundial, possui sequencia vulcano-sedimentares arqueanas distribuídas ao longo de 160 km onde a CPRM já mapeou mais de 40 ocorrências de ouro. Além disso , a própria CPRM detém títulos minerários para pesquisa e lavra na reserva, que, nas novas regras deverão ser leiloadas. O executivo da CPRM também destacou a intenção do governo de criar condições para investimentos na fronteira brasileira por empresas estrangeiras. Esclareceu que o governo trabalha forte para elevar 4% para 6% a participação do setor mineral no PIB nacional.
POSSIBILIDADE MINERAL
O grau atual de conhecimento geológico da área da reserva é insuficiente para se quantificar o valor da produção mineral da área O reconhecimento de ambientes geológicos favoráveis as minerações NÃO ASSEGURA a presença de depósitos minerais economicamente viáveis principalmente levando-se em conta as características da região amazônica, a presença de densa floresta, a ausência de acesso terrestre, a extensão da área 46.540 km2 e a absoluta falta de infraestrutura da região. Ainda assim, por suas características geológicas a área apresenta potencialidade mineral rica e diversificada, destacando-se: ouro, ferro, manganês, fosfatos; sulfetos de cobre e zinco; indícios de cromo, níquel, estanho, tântalo, titânio, nióbio e cobre.
A criação da RENCA não visou a proteção da Floresta nem do meio ambiente. tratou-se de uma ação nacionalista equivocada do governo militar.
A RENCA foi invadida por garimpeiros que contaminaram com mercúrio todos os cursos d’água da área.
A extinção da RENCA tem um simbolismo muito grande para o setor mineral. Trata-se de um fato histórico. Reabre esperanças em ricos e pobres .
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