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O rapper Emicida foi destaque do terceiro dia da Feira do Empreendedor 2021 do Sebrae | Foto: Divulgação
Entrevista

Emicida: “O grande desafio é transferir sonhos para fora da nossa cabeça”

Da Redação

Betral

Leandro Roque de Oliveira, mais conhecido com Emicida, foi o grande destaque do terceiro dia da Feira do Empreendedor 2021. O artista que é rapper, cantor, produtor, letrista, compositor e designer de moda, é um dos criadores da produtora Laboratório Fantasma, empresa responsável por transformar em realidade as ideias que saem da sua cabeça criativa. Em um bate-papo, na tarde desta segunda-feira (25), ele conversou com os visitantes da Arena do Conhecimento sobre a sua trajetória como empreendedor, sobre seu processo criativo, desigualdade social e construção de redes.

Sobre a sua atividade empreendedora, Emicida diz – citando o escritor Muniz Sodré – que ele tenta olhar o mundo e ver o que ninguém viu. “Muitas vezes, as soluções acontecem assim. Muitas pessoas passaram por caminhos semelhantes aos nossos, mas não conseguiram visualizar as oportunidades que as cercavam”, comenta. “O grande desafio é transferir os sonhos para fora da nossa cabeça. Porque sonhar e imaginar é a parte mais deliciosa. A dedicação para fazer com que o seu sonho exista fora da sua cabeça, vai exigir planejamento, visão”, ressalta o rapper.

A Feira do Empreendedor 2021 é uma iniciativa do Sebrae que está levando, gratuitamente e de modo 100% online, a donos de pequenos negócios e potenciais empresários, a oportunidade de orientação, atendimento, consulta de crédito, network e realização de negócios. Somente até domingo, o evento já contava com mais de 104 mil pessoas inscritas. Os dois primeiros dias do encontro, aberto no sábado, tiveram mais de 30 mil visitantes e contabilizaram mais de 62 mil atendimentos nos diversos serviços oferecidos nas arenas virtuais montadas pelo Sebrae.

Confira os destaques do bate-papo com Emicida:

Como fazer não deixar o sonho de empreender morrer? Como foi o seu começo como empreendedor, quando você começou a vender a primeira mixtape?

O momento que eu me torno empreendedor acontece muito antes de abrir uma empresa. Eu me sinto como uma pessoa que tinha de realizar coisas e a gente se torna empreendedor no caminho desse algo que a gente precisa fazer.

As pessoas ficam muito assustadas com medo de errar. Mas é importante dizer que alguma perda a gente sempre tem. Eu gosto muito da analogia do filme “Amarelo” de plantar, regar e colher a horta… É importante a gente ter em mente que as condições climáticas mudam de um ano para o outro. Vão surgir pragas, coisas fora do previsto que costumam acontecer. Isso é a vida real. O que me manteve nesse caminho foi a sensibilidade, a atenção e a dedicação. A gente não pode perder isso de vista.

O grande desafio é transferir os sonhos para fora da nossa cabeça. Porque sonhar e imaginar é a parte mais deliciosa. A dedicação para fazer com que o seu sonho exista fora da sua cabeça, vai exigir planejamento, visão…

Como o empreendedorismo pode acelerar o processo de redução das desigualdades que é uma marca histórica do Brasil?

Um poema da Elisa Lucinda diz que “Não dá pra gente mudar o começo. Mas, se a gente quiser, consegue mudar o final”. Isso é um chamado para a ação fabuloso. Porque empreender é muito mais que abrir uma empresa. Empreender é realizar uma tarefa.

Muita gente me convida para falar de uma história de sucesso. Mas se a gente não se preocupar com as desigualdades que cercam a gente, cada vez mais a tendência é esse tipo de história se repetir cada vez menos. A gente precisa romper com essa história. E isso acontece quando a gente levanta a nossa cabeça e passa a acreditar no nosso potencial, não só enquanto indivíduo, mas enquanto comunidade.

A estrutura que me impede de brilhar é obsoleta e precisa ser desinventada. Nós já fomos até o limite de onde a gente pode ir com tanta desigualdade. O combate à essa realidade precisa ser um elemento transversal de todas as nossas discussões. Quando a gente brilha, a gente convida o mundo todo a brilhar com a gente…

Você aprendeu muito cedo a trabalhar em redes. Qual a importância de trabalhar desse modo e como criar essas articulações?

Eu acredito que a gente tem de ser bom em fazer redes. Isso não é uma opção. Se vivêssemos cada um em uma ilha distante do outro, a gente não teria essa obrigação. Mas isso não é uma realidade. Principalmente, não no século XXI. Nesse sentido, é importante não só construir redes, mas saber oxigenar as que já existem, para que elas continuem a fazer pontes entre as pessoas.

Às vezes, quando você se entende sozinho, você se sente também desestimulado de correr atrás de uma mudança grande. Agora, essa mudança começa a ser cada vez mais possível quando você começa e pegar as outras pessoas pela mão e cria uma grande corrente. Eu acredito muito que não existe vitória individual. Uma vitória de verdade tem de ser uma vitória coletiva. E isso só acontece com a organização em rede.

Como você diversifica os seus empreendimentos? Você é produtor, compositor… desenha moda. Como nasceu a sua empresa e como você expandiu para essas outras atividades?

Tudo começou com uma mochila e um celular. Esse era o nosso escritório no começo. Em geral a indústria tende a demonizar a pirataria. Eu pensava que a pirataria era algo para se investigar. No momento em que a gente fez a primeira Mixtape, saiu uma notícia (o ano era 2009) dizendo que 8 milhões de pessoas aderem ao produto pirata. A gente percebeu que o preço dos CDs no mercado fonográfico estava se tornando exorbitante e que não era convidativo para a população. Ainda não havia o serviço de streaming.

Quando eu falo sobre essa experiência com a pirataria, eu quero dizer que nós sempre fomos atentos às crises e às oportunidades. Nós, de alguma forma, replicamos o modus operandi da pirataria com produto original. A gente conseguiu, com isso, alcançar o preço final de 2 Reais.

Nós tivemos a percepção de que havia espaço para uma música como a nossa, com uma letra e valores como os nossos. A gente estava fazendo os CDs, mas também já estávamos produzindo camisetas. Mas no primeiro show, a gente não vendeu nenhuma. Fizemos 20 e não vendemos nada. Isso fez a gente voltar e estudar mais sobre o nosso produto. Por que ele não tinha sido convidativo? E foi assim que a gente começou a evoluir, entendendo como se fazia roupa. Eu acredito que a criatividade é a nossa matéria prima. A plataforma na qual a gente vai dispor a nossa criatividade não faz diferença. Se vai ser um CD, um Show, um documentário, um desfile de moda… depois a gente vai ver. O que importa é que a gente é criativo e atento para compartilhar a nossa criatividade com o mundo por alguma janela qualquer. A gente gosta de contar histórias e a gente sabe que contar isso é essencial, principalmente quando você tem um empreendimento.

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