O pesquisador brasileiro Ismael Nobre, que já atuou no Amapá na década de 90 como consultor da mineradora Icomi S.A. concedeu nesta quarta-feira (06) uma intrigante entrevista ao colunista Sérgio Garcia, do jornal carioca O Globo. Em pauta, o projeto que ele ajudou a construir que prevê compensações para a Amazônia ser mantida em pé, exercendo o famoso jargão de ser o “pulmão do mundo”. Mas o cientista vai além, diz que é preciso agir junto às junto as Ciências Ambientais e Humanas, para ver como a sociedade interfere no meio ambiente, e vice-versa. Atua, com um grupo de cientistas, em projeto que busca o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Acompanhe os principais trechos da entrevista.
SÉRGIO GARCIA, O Globo
Como o senhor descreve o atual estágio de conservação da Floresta Amazônica?
O desmatamento avança de forma preocupante, chegando próximo ao ponto em que ele começa a ameaçar a sobrevivência da floresta. Já temos 18% de perda daquele bioma. O ponto de virada seria 25%, o que configuraria uma catástrofe definitiva. Isso foi publicado em artigos científicos recentes. A floresta tropical úmida depende da chuva, que, por sua vez, depende da umidade que evapora dali. Com o solo mais quente e seco, esse ciclo de umidade se interrompe. A tendência é a Amazônia se tornar uma savana, um cerrado. Esse processo leva séculos, mas, uma vez que ele se inicia, periga tornar-se irreversível.
O que é preciso fazer para modificar esse quadro?
O sistema de vigilância da região é muito eficiente, detecta com rapidez onde houve desmatamento e incêndio. O problema é a política de desenvolvimento para a Amazônia, com as permissões para a criação extensiva de gado e plantação de soja, que são incompatíveis com a floresta. Muitas áreas protegidas têm sido invadidas. Quando o poder público chega, já está tudo degradado. Daí, diante do fato consumado, os legisladores modificam a lei.
Qual a proposta do projeto que o senhor integra?
O projeto Terceira Via Amazônica quer atribuir valor econômico ao que a floresta possui. Ela tem uma diversidade de moléculas que podem virar remédios, perfumes, insumos para a indústria. Descobriram em um ser microscópico da Amazônia um gene capaz de decodificar uma enzima que transforma a celulose em açúcar. Isso é um ativo econômico. As técnicas de leitura dessa biodiversidade estão ficando mais acessíveis. Há novas ferramentas que podem transformar o potencial da Amazônia em riqueza. Temos a capacidade de pesquisar os genes desses seres e encontrar elementos que podem influenciar ciclos econômicos. Os ativos biológicos terão grande valor no futuro. Muito maior que a carne e a soja, que, ainda por cima, ajudam a eliminar aquele bioma.
O que pode ser feito para que esse ciclo beneficie as populações amazônicas?
Nosso projeto mira as cadeias produtivas. Queremos que elas gerem valor para as populações locais. Hoje, o produto da Amazônia fica mais valioso à medida que se distancia de lá. É possível agregar valor. As máquinas estão mais portáteis, conectadas à internet por meio de inteligência. Um exemplo é a impressora 3D, ícone da Quarta Revolução Industrial. Podemos usá-la para fazer chocolate de cupuaçu. Quando pronto, um drone pode levá-lo ao ponto de embarque.
O senhor está otimista em relação à Quarta Revolução Industrial?
A Quarta Revolução Industrial caracteriza-se pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas. Um bom exemplo dessa confluência é a possibilidade, já provada, mas ainda não disponível no mercado, de armazenar dados como documentos em estruturas de DNA. Temos, também, a biomimética, que procura mimetizar o que a natureza pode nos oferecer como solução. Uma pesquisadora descobriu uma estrutura para fazer grampos cirúrgicos baseada no design e na funcionalidade da mandíbula de uma formiga-cortadeira.
Ismael Nobre, cientista Biólogo radicado em São Paulo foi ao Rio de Janeiro para dar uma palestra em seminário sobre Economia Verde. Em 1994, prestou consultoria à mineradora ICOMI através do Instituto Regional de Desenvolvimento do Amapá (IRDA), no desenvolvimento de pesquisa de campo em Serra do Navio para identificação do potencial e estratégias para implantação de ecoturismo.
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