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Pecuarista Jesus Pontes, presidente da Associação dos Criadores do Amapá | Foto: Bruce Barbosa/CB
Economia

“Quem tem dois frangos, abate um e vende o outro faz agronegócio”

Uma jovem liderança do chamado agronegócio, empreendedor destacado e, mais do que isso, um estudioso a respeito do setor e das mudanças que pode e já está produzindo para a economia do Amapá. Com esse predicados, o economista e pecuarista Jesus Pontes foi ao rádio, conceder uma esclarecedora entrevista ao programa Conexão Brasília. Na oportunidade, discorreu a respeito dos temas mais atuais para a pecuária e também para a agricultura, como a certificação em Paris de que graças ao esforço de estados como o Amapá, o Brasil está se livrando da febre aftosa, o que dará ainda mais competitividade para a carne brasileira e, em especial, para a carne de búfalo, uma especialidade que o estado passa a ter protagonismo, com autoridade, qualidade e quantidade.

Betral

Cleber Barbosa
Da Redação

Blog do Cleber – A Organização Mundial de Saúde Animal confirmou em Paris com a certificação de que o país está se livrando da febre aftosa. E o Amapá teve um papel importante para essa conquista não foi?
Jesus Pontes – O estado do Amapá foi fundamental para o processo, resolveu um problema nacional, em conjunto é claro, com o Amazonas, Roraima e uma parte do Pará, que ainda estavam fora da certificação, mas a gente sabe do esforço de todos, do governador Waldez, de toda a sua equipe da defesa agropecuária, da SDR e do RURAP e o produtor rural, o fazendeiro que fez a sua parte. Foi fundamental a união de todos nesse processo, que culminará em maio quando com toda certeza o governador do estado, uma comitiva oficial e nós produtores do Brasil estaremos representando um pedacinho do Brasil nesse momento histórico.
Blog – Pois é, eram poucos estados que faltavam fazer o seu dever de casa, digamos assim, para livrar o país da febre aftosa em seu rebanho, um trabalho que vem de longe não é?
Jesus – Sim, foram construindo devagar, foi fundamental como disse o esforço de todos, afinal são 50 anos de luta e quis Deus que fosse em 2018 quando já está fundada a nossa instituição, a ACRIAP, que ajudou nessa mobilização em torno de encontrar uma solução para o problema, que atrasava a pecuária do estado, atrasava os negócios no estado e até constrangia muitas vezes lideranças nossas do setor empresarial quando discutiam o assunto em Brasília ou em outros lugares, então o quanto antes a gente pensa em continuar o processo de certificação do Amapá não só para a aftosa como também para brucelose, tuberculose, dentre outras doenças do mundo animal que atrapalham os negócios.
Blog – Por falar em negócios, o senhor e outras lideranças do setor têm conseguido comercializar a carne de búfalo para o exterior, como por exemplo o Oriente Médio, não é mesmo? Como está esse mercado também?
Jesus – Sim, também conseguimos isso com muita dificuldade num passado recente, quando a questão da quarentena era complicada, porto, enfim a logística aqui em nosso porto de Santana também pelo tamanho, mas a gente entende que num futuro próximo o produtor do estado do Amapá estará preparado para exportar não só gado vivo como também o corte premium do nosso querido búfalo, o ouro negro do nosso querido estado do Amapá, é o que a gente entende. Então além desse embarque para o Oriente Médio tivemos embarque também para a Venezuela, mas agora eu acho que será corriqueiro a partir do momento que você facilita o trâmite documental e o processo de certificação, tanto que a gente pensa para o futuro certificar a carne também, como boi verde ou boi orgânico, que é o nosso animal criado aqui no estado em campos naturais.
Blog – Tem um pecuarista local, o pastor Guaracy Júnior, que recentemente fez um embarque de pouco mais de 6 mil animais vivos também, mas foi a partir do Pará, onde ele também tem propriedades. Aliás, outro embarque semelhante rendeu muita discussão e até a judicialização do problema. Isso foi superado?
Jesus – Ah sim, já foi superado. No Brasil as coisas mudam muito rápido, né? O estado do Pará já exporta gado em pé, como se diz, e vez ou outra tem alguém que se envolve pelo meio para atrapalhar os negócios, mas já foi tudo esclarecido e continuamos sim a fazer exportações de animais via Pará também.
Blog – Aliás desde o anúncio de que a certificação internacional seria concedida ao Brasil foi feita uma grande campanha pelo próprio ministro Blairo Maggi, que também vem desse setor não é?
Jesus – Sim, essa é a diferença de ter um produtor rural como ministro. Ele entende os anseios, as necessidades, sente na pele o que nós passamos no dia a dia para empreender em nosso país, e ele sempre faz referência para os produtores, que é a base. Nós construímos os negócios, assumimos os riscos e nada melhor do que uma referência nacional no mundo do agronegócio, aliás internacional hoje, e foi uma honra tê-lo descerrando a placa inaugural lá da nossa Casa do Agro no final do ano, fundamental naquele momento, e ainda é. Nós temos uma boa relação com o Ministério da Agricultura, com o ministro e também com a bancada ruralista. Conversamos bastante a respeito dos problemas do estado e onde convém a gente consegue construir uma unidade e eles estão sempre nos auxiliando em todas as ações necessárias para destravar os processos produtivos do estado do Amapá.
Blog – Ainda há pouco o senhor citou a carne bubalina chamando de ouro negro do Amapá, mas ainda existe resistência ou até preconceito em relação à carne de búfalo?
Jesus – Olha, isso ainda não foi superado completamente, apesar de a gente ter trabalhado bastante nesse sentido. Eu particularmente só deixo entrar na minha casa carne de búfalo, por isso que eu estou magrinho tá? [risos] Mas, de verdade, é uma carne mais saudável, com mais proteína, enfim, eu não vou falar tecnicamente aqui pois as pessoas até não vão entender, mas dê preferência para a carne de búfalo, pois tem até médico que receita a carne de búfalo para os cardíacos, então para você ver o quão bom é o produto! O que acontecia no passado, para justificar até o pensamento negativo que as pessoas tinham em relação a carne, era porque o pecuarista fazia o abate do animal muito velho e aí não tem carne boa de animal velho, com dez, doze anos, que a carne vai ser dura. Outros animais que são conhecidos como produto premium, se abater muito velho pode ter certeza de que a carne não vai ter a mesma qualidade. A gente hoje pensa na precocidade do búfalo e utilizar isso como impulsionador de novos negócios. O Pará já vem fazendo isso como o baby búfalo e o produto nobre do búfalo que é o queijo mussarela que é espetacular, uma exclusividade e que nós somos o segundo maior rebanho do Brasil e temos com certeza a melhor genética tanto para carne quanto para leite.
Blog – Qual o papel, ou o protagonismo que esse setor do agronegócio ocupa hoje na economia do estado presidente?
Jesus– Olha, nós éramos apenas 3% do PIB [Produto interno Bruto] do estado do Amapá, crescemos bastante e entendemos que ao longo de dez anos seremos perto de 50% do PIB do estado, gerando emprego e renda no interior, então até projetamos que haverá um êxodo urbano, pela primeira vez na história do Amapá, com pessoas das cidades como Macapá e Santana migrando para o interior em busca de emprego e renda.
Blog – Daí a importância de todos conhecerem, se apropriarem e se prepararem para as demandas que o agronegócio já apresenta, seja na pecuária, seja na agricultura, não é? 
Jesus – A gente entende que o agronegócio é uma coisa só. Quem cria dois frangos, um ele abate para comer e o outro ele vende, está fazendo agronegócio. Acho que outra cadeia produtiva importante que acontecerá logo logo vai despontar no estado é a do ovo, que hoje vem de São Paulo e de outros grandes estados do Brasil e a gente deixa de consumir aqui um produto criado e feito aqui. Mas é isso, pensamos em todas as cadeias, por isso sou um estudioso da área, gosto demais, faço por paixão, não falo de agro só por negócio, dificilmente você encontra alguém assim, faz porque gosta mesmo.

Perfil
Entrevistado. Jesus Pontes é amapaense nascido em Santana, formado em economia pelo Centro de Ensino Superior do Amapá (CEAP) com MBA em Gestão empresarial pela FGV e empresário rural no Estado do Amapá. Como experiência profissional atuou como economista no governo do estado participou da equipe que captou recursos do Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID; atuou na Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado, na Companhia de Gás do Amapá  e a Atualmente é o presidente da Associação dos Criadores de Animais do Amapá – ACRIAP.

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