André Lorenzetti
Mesmo sendo de senso comum que o final do ano é um período de comemorações e alegrias, para muita gente essa época traz outros sentimentos, de tristeza, angústia e solidão. Para se ter uma ideia da dimensão dessa realidade, Leila Heredia, voluntária e porta-voz do CVV, comenta que historicamente a procura pelo CVV aumenta em cerca de 20% em dezembro. “Entendemos que há várias causas para esse fenômeno, como a sensação de que nenhuma das promessas e planos feitos no final do ano passado foram colocados em prática; a percepção de que todos à volta estão felizes e rodeados de amigos enquanto eu passo por momentos difíceis; ou a lembrança de pessoas queridas que já não estão por perto”, comenta Leila.
Por essa razão, o melhor presente que uma pessoa pode oferecer a outra nesse período é a empatia. Buscar compreender o que a outra pessoa sente, sem pré-julgamentos, críticas ou frases de efeito, pode trazer conforto e a percepção de que se é respeitado e querido. “Em dezembro, é comum se fazer o pré-julgamento de que todos estão felizes”, exemplifica a voluntária do CVV, “ou quando sabe que alguém está em um momento difícil, na tentativa de ajudar, dizer que aquela situação vai passar, não é nada, tem coisa muito pior”. Segundo Leila, afirmações como essas podem levar a pessoa a se sentir ainda menos capaz de superar suas dificuldades ou a se afastar emocionalmente. Um ponto importante é que, empatia não é sentir a dor do outro, mas compreendê-la. “Dor é algo individual, não tem como sentirmos a dor de outras pessoas”, diz Leila, “mas compreender, acolher e não julgar está ao alcance de todos”.
O CVV é uma organização sem fins lucrativos que há mais de 50 anos oferece apoio emocional e prevenção do suicídio gratuitamente, exclusivamente por meio de voluntários devidamente selecionados e preparados. Nessas décadas, acumulou experiência com esse acolhimento empático, que auxilia pessoas em qualquer situação da vida em que não encontre espaço para conversar abertamente com pessoas conhecidas. “É com base nessa experiência de mais de meio século que podemos afirmar que demonstrar empatia sincera, acolhedora e sem ameaças, funciona”, finaliza a voluntária.
O CVV vem observando um crescimento acentuado pela procura de serviços e voluntariado nos últimos meses. De 2016 para 2017 o número de atendimentos dobrou de 1 milhão para 2 milhões em todo o país e deve chegar a 2,5 milhões neste ano. Tal crescimento foi possível graças a um aumento de 2.000 para 2.700 voluntários que atendem pelo telefone sem custo de ligação 188, chat e e-mail (esses últimos pelo site cvv.org.br). A entidade credita esse crescimento ao maior debate sobre prevenção do suicídio na sociedade e à conclusão da expansão do telefone 188 para 100% do território nacional em junho de 2018.
Sobre o CVV
O CVV presta serviço voluntário e gratuito de prevenção do suicídio e apoio emocional para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. Os cerca de 2,5 milhões de atendimentos anuais são realizados por 2.700 voluntários em 100 postos de atendimento pelo telefone 188 (sem custo de ligação), ou pelo www.cvv.org.br via chat, e-mail ou carta. A entidade realiza também ações presenciais, como palestras, Curso de Escutatória e grupos de apoio a sobreviventes do suicídio – GASS (https://www.cvv.org.br/cvv-comunidade/).
Sobre o suicídio
O suicídio é um problema de saúde pública que mata pelo menos um brasileiro a cada 45 minutos, mais do que a Aids e muitos tipos de câncer, porém pode ser prevenido em 9 de cada 10 casos. O movimento Setembro Amarelo, mês mundial de prevenção do suicídio, iniciado em 2015, visa sensibilizar e conscientizar a população sobre a questão –www.setembroamarelo.org.br
* Dados do Ministério da Saúde
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