Jornalistas, psicólogos, professores, estudantes e profissionais de diferentes áreas atenderam ao convite da Promotoria de Defesa da Saúde do Ministério Público do Amapá (MP-AP), para debater a responsabilidade da comunicação ao divulgar casos de suicídio. O alerta principal é que o foco deve mudar para prevenção e orientação aos que precisam de apoio.
Durante o encontro, realizado nessa terça-feira (16), no auditório da Procuradoria-Geral de Justiça, inúmeros relatos evidenciaram a urgência que o tema requer. “Apoiar a Rede de Valorização da Vida é uma prioridade e vamos atuar, em diferentes esferas, para que todos assumam suas responsabilidades. Precisamos nos unir para fortalecer a assistência psicossocial no Estado. A falta de orientação é um problema sério, que não pode mais ser negligenciado”, disse a PGJ do MP-AP, Ivana Cei, na abertura do encontro.
Ao convocar a reunião, a promotora de Justiça Fábia Nilci, titular da 2ª Promotoria de Defesa da Saúde, justificou que a maioria das publicações ao reportarem casos de suicídio, no Amapá, não respeitam as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo necessário, portanto, reforçar tais diretrizes. “Esse é o primeiro passo. Vamos intensificar o diálogo com as pessoas que atuam na mídia, mas outras medidas ainda serão adotadas”.
Afinal, o que está sendo feito de errado?
O coordenador do Ambulatório de Atenção à Crise Suicida (AMBACS), doutor em psicologia e professor da Universidade Federal do Amapá (Unifap), Washington Brandão, destacou que a divulgação inadequada de casos de suicídio podem provocar o chamado “Efeito Werther”. “Termo utilizado pelo sociólogo David Phillips, em 1974, para definir o efeito imitativo do comportamento suicida”, explicou.
Falar de suicídio nos meios de comunicação – de forma incorreta – pode ser perigoso. Portanto, recomenda-se não entrar em detalhes, não exibir fotos ou abordar o caso de forma sensacionalista. É necessário tratar o tema com sensibilidade e empatia. “Imaginem a dor dos amigos e familiares ao receberem a notícia com exposição desnecessária ou atribuição de culpas e explicações simplistas”, acrescentou Brandão.
A psicóloga Luana Nunes, integrante da Micro-Rede de Atenção Às Vítimas do Comportamento Suicida e Violência Auto-Infligida e do AMBACS, apresentou os resultados da sua pesquisa “Mídia e Suicídio: prevenção e posvenção na era digital”, reforçando a necessidade de mudança no comportamento dos que utilizam os diferentes meios de comunicação, especialmente as redes sociais, para divulgar esse casos.
Roda de conversa
Após as exposições dos psicólogos, houve uma ampla rodada de conversa, com depoimentos, relatos pessoais e sugestões. A promotora Fábia Nilci disse que todas as contribuições serão sistematizadas para orientar uma séria de medidas a serem adotadas pelo MP-AP. Inicialmente, três ações foram encaminhadas: a elaboração de uma recomendação para a mídia; a criação de um comitê permanente de comunicação e a criação do Plano Estadual de Enfrentamento ao Suicídio.
Ao final, o promotor de Justiça Felipe Menezes, do Juizado Especial Cível e Criminal, relembrou que o Centro de Valorização da Vida (CVV) foi fundado no Amapá, na década de 90, e que naquela época, a ação do MP-AP em apoio à organização foi motivada pela exposição na mídia de um jovem suicida. “Combater a ideação suicida é um trabalho multidisciplinar, que precisa de técnica e apoio dos profissionais especializados”, pontuou.
Comunicadores pela vida
Profissionais de comunicação, assessores de imprensa de diversos órgãos públicos e empresas privadas, grupos de comunicação, além do Sindicato dos Jornalistas do Amapá (Sindjor) firmaram o compromisso de criar e manter uma rede colaborativa de comunicadores, para construir campanhas educativas, que possam contribuir efetivamente na orientação da comunidade que mais precisa de apoio.
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