Larissa Quintino e Luisa Purchio (Veja.com)
Sem timidez nem muita cerimônia, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, literalmente marretou o púlpito na B3 na quarta-feira, dia 7. As três marteladas, tradicional gesto do fechamento de de negócios, vindas das mãos do ministro ressoaram como uma catarse, a ponto de racharem a base de madeira onde foram desferidas.
O gesto do ministro, entre eufórico e raivoso, marcou o fim do processo de concessão de 22 aeroportos para a iniciativa privada, a primeira e a mais representativa parte de um conjunto de três leilões de infraestrutura marcados pelo governo na última semana, um pacote que se propõe a garantir investimentos próximos de 10 bilhões de reais, e inclui também a Ferrovia Leste-Oeste, na Bahia, e cinco terminais portuários no Maranhão e no Rio Grande do Sul.
Apenas para operarem os aeroportos negociados, as duas empresas vencedoras dos leilões, a brasileira CCR e a francesa Vinci Airports, deverão investir 6,13 bilhões. Para isso, pagaram 3,3 bilhões de reais nos lances vencedores dos três blocos negociados, o que representou um ágio de quase 4 000% em relação aos preços mínimos estabelecidos pelo governo.
Tais números justificaram a energia extravasada pelo ministro em seu gesto na B3. Afinal, mostram que o Brasil — mesmo em meio ao seu pior momento na pandemia, com o risco fiscal nas alturas e a desconfiança dos investidores quanto à fidelidade do presidente Jair Bolsonaro à agenda liberal — consegue ser atraente para investimentos de longo prazo. “Vamos superar a pandemia e temos o desafio da geração do emprego, que vai vir pela mão do investimento privado. Não há outra alternativa. Temos de seguir nossa trajetória de responsabilidade fiscal”, definiu o ministro da Infraestrutura, dizendo que “a conjuntura passa, os contratos ficam”.
Aeroportos
As empresas ganhadoras terão as concessões dos aeroportos por trinta anos e a estimativa do governo é que os leilões dessa semana levem à criação de 200 000 empregos. “Há uma clara sinalização de que o investidor confia no Brasil. São contratos longos, celebrados independentemente de governo, mas sim focando no potencial do país”, analisa Marcus Quintella, diretor do centro de estudos FGV Transportes. E eles acontecem num momento que as empresas ligadas ao setor de aviação têm as suas finanças fortemente afetadas em todo o mundo pela falta de viagens. “Talvez os anos iniciais da concessão, em razão da pandemia, pouco explicarão a demanda futura das próximas três décadas. Mas somos investidores e acreditamos no projeto”, avalia Marco Cauduro, CEO da CCR.
Nota da redação
A aeroporto de Macapá foi incluído no leilão de privatizações, mas neste primeira série de três certames o terminal amapaense não foi negociado pro nenhum investidor. Quem levou o bloco Norte foi a empresa francesa Vinci Airports, que administra, entre outros, o aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Ela pagou R$ 420 milhões, ágio de 777% ante o preço mínimo.
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