Os pecados serão perdoados
Dom Pedro José Conti
Após uma grande assembleia, uma delegação de demônios foi ter com Deus para apresentar-lhe uma gravíssima reclamação.
– Veja, Senhor – iniciou o porta-voz – nós, antigamente cometemos um único pecado e fomos condenados a sofrer eternamente no inferno. Olhamos para a terra e vemos os homens cometerem milhares de pecados. Nós tentamos e eles facilmente nos obedecem. É moleza. Contudo, se eles dão um pequeno sinal de arrependimento, são perdoados, não uma, mas milhares de vezes. Nós erramos uma vez e fomos condenados. Eles o fazem tantas vezes e se salvam. Onde está a justiça?
– Deus respondeu: É verdade, Perdoo e perdoarei milhares de vezes. Vocês foram condenados, porque nunca pediram perdão e nem deram sinal de arrependimento. Seria suficiente reconhecer que fizeram o mal, arrependerem-se e seriam perdoados sem demora. De fato, os homens me ofendem muito. Eles pecam, mas se arrependem. Recorrem ao meu coração e eu jamais poderei negar o perdão a quem se arrepende. Os mensageiros do inferno não quiseram mais conversa. Saíram enraivados e foram explicar aos seus colegas o que Deus lhes tinha dito. Continuaram e intensificaram as suas artimanhas para afastar os homens da misericórdia do Pai, mas alguns dizem que formaram uma equipe para estudar a negociação do arrependimento. Quem sabe?
A celebração do domingo de Pentecoste, cinquenta dias após a Páscoa, acompanha o livro dos Atos dos Apóstolos. A forte ventania e o fogo, a superação do medo e a coragem dos apóstolos de saírem para anunciar a ressurreição de Jesus, sinalizam o dom do Espírito Santo. Para o evangelista João, desde quando Jesus morreu na cruz, ele “entregou o espírito” e ao anoitecer do dia de Pás coa, o dia da Ressurreição, soprou sobre eles e disse: “Recebam o Espírito Santo”. Logo em seguida, encontramos as palavras: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20,23). Surge a pergunta: qual a ligação entre o dom do Espírito Santo e o perdão dos pecados? É bom entender isso porque está em jogo o sentido do dom do Espírito Santo e a própria missão da Igreja, animada pelo mesmo Espírito até a volta do Senhor Jesus no fim dos tempos.
Vou dizer logo que por “pecado” entendo tudo aquilo que contraria o projeto do Reino de Deus. Nesse sentido, temos os pecados facilmente reconhecíveis, aqueles que destroem a vida e a dignidade das pessoas, as escravizam e afastam do amor de Deus e dos irmãos. Não precisa, porém, sermos declaradamente adversários de Deus; é suficiente excluí-lo da nossa vida e colocar em primeiro lugar a nós mesmos, os nossos projetos, o nosso orgulho. Muitas vezes, reconhecer essa indiferença é mais difícil do que admitir erros e maldades. Nos arrependermos de não ter feito nada é mais complicado que lamentar as consequências do mal praticado. O dom do Espírito Santo quer nos ajudar a enxergar e a não praticar o mal, mas, muito mais, a nos tornarmos “santos”, ou seja, cristãos que praticam o bem, vivem o mandamento do amor, gastam a vida a serviço do Reino de Deus. O fogo não queima somente, ele também aquece e ilumina.
Todos nós, batizados e crismados, continuamos pecadores, ainda estamos a caminho da santidade. Caímos, manchamos a veste branca do nosso batismo. No entanto, apesar dos pecados e das falhas, não desistimos de levantar e continuar na missão de testemunhar a beleza e a grandeza do amor de Deus para com todos. O perdão dos pecados, a prática do sacramento da Reconciliação, é para isso: não ficar caídos, nunca perder a esp erança de poder ser melhores. No nosso batismo unimos a nossa vida à vida daquele que venceu o mal e a morte: Jesus, o Filho. Mas também à vida do Pai e do Espírito Santo. Desistir de recomeçar, desistir de pedir perdão, seria como dizer que Jesus morreu na cruz por nada, que nada mudou, que ainda é o mal que domina o mundo e a morte tem a última palavra. Talvez o demônio ainda acredite nisso. Nós cristãos não mais.
Dom Pedro José Conti, Bispo Diocesano de Macapá, o italiano Piergiuseppe Conti, no Brasil assina Pedro José Conti, nasceu na cidade de Brescia, no dia 10 de outubro de 1949, filho de um operário e de uma dona de casa. Foi ordenado padre no dia 12 de junho de 1976; Foi consagrado bispo no dia 18 de fevereiro de 1996, passando a atuar em Conceição do Araguaia, também no Pará. Em 2005 foi transferido para a Diocese de Macapá, após o falecimento do titular dom João Rissati.
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