Cleber Barbosa, da Redação
Uma transação milionária envolvendo a ZPE (Zona de Processamento de Exportação) do estado do Acre, gerou especulações no Amapá – que também tem uma ZPE. Foi devido a semelhança entre os nomes da acreana China Haiying e a multinacional China Railway, que é chinesa. Esta última no final de 2019 anunciou planos para investir no Amapá. A China Railway Construction Corporation Limited é uma empresa de construção listada com sede em Pequim, China, que recentemente foi apontada a segunda maior empresa de construção e engenharia do mundo em receita.
A quase homônima é brasileira, foi constituída em maio de 2020, com um capital social de apenas R$ 5 milhões. Mesmo assim arrematou em leilão por R$ 25,8 milhões, um parque industrial vazio de 130 hectares, criado há dez anos. A ideia é atrair para ali empresas exportadoras por meio de incentivos fiscais estaduais. “Só compraram porque viram todo o cenário do momento, da conclusão da ponte”, afirmou o governador Gladson Cameli (PP), que no fim de semana compareceu à festa para a inauguração da Ponte do Abunã, em Rondônia, mas que tira o Acre do isolamento do restante do país. O presidente Jair Bolsonaro compareceu ao evento e fez questão de destacar a importância do ingresso de capital privado.
Amapá
É grande a expectativa desde antes do início da pandemia, quando os investidores chineses visitaram o Amapá, prospectando negócios no setor de logística e mineração. Porém encontraram por aqui um enorme impasse sobre a reabertura do porto de minérios em Santana e uma disputa judicial interminável sobre quem deverá embarcar o estoque remanescente de manganês da Serra do Navio.
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Acre
Em 2010, ano em que a rodovia interoceânica foi inaugurada, as exportações do Acre representavam 0,4% do PIB estadual. Em 2018, último dado disponível, esse percentual subiu apenas para 0,7%. Os dados são do Ministério da Economia e do IBGE. O Acre é o estado menos exportador do Norte. Em 2019, as vendas aos exterior somaram US$ 31,5 milhões – somente 0,2% das exportações da região.
O representante do grupo de investidores, José Maurício Prado, explicou que a empresa tem o objetivo de criar mecanismos que ajudem a fortalecer a economia do Acre. “Temos toda a condição de investir e de fazer com que o empreendimento funcione do jeito que precisa. A escolha foi estratégica, inclusive porque recebemos ofertas de outros lugares, mas o Acre foi escolhido justamente por ter a saída do Pacífico, com a intenção de que todo produto saia por essa estrada, mesmo sabendo que ainda há investimentos de infraestrutura a serem feitos”, ressaltou.
Infraestrutura
Inaugurada na sexta-feira por presidente Bolsonaro (sem partido), a ponte do Abunã está inteira em Rondônia, mas a expectativa da sua abertura é maior no Acre. Com a obra, o estado mais ocidental do Brasil passa a ter uma ligação rodoviária com o restante do país sem a necessidade de balsa. “É um sonho de todo acreano, que sentiu na pele o que é um estado isolado. Você lembra o que foi a cheia de 2014. Até ovos de galinhas vieram de avião”, disse o governador Gladson Cameli.
Naquele ano, a rodovia BR-364 ficou intransitável por algumas semanas, provocando desabastecimento no Acre. Os mantimentos só chegavam via área e por balsas. A inundação atingiu a área projetada para ser o início da ponte. Com isso, o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) refez o projeto da obra, que havia sido iniciada no ano anterior. Ao todo, a ponte levou sete anos e três presidentes para ficar pronta, a um custo de cerca de R$ 160 milhões, valor 25% maior do que o orçamento inicial.
Agora, a travessia sobre o rio Madeira, que demorava até três horas por causa das filas e custava de R$ 20 a R$ 190, leva cerca de 1 minuto. Com 1,5 km de extensão, trata-se da segunda maior ponte fluvial do país, menor apenas do que a ponte sobre o rio Negro, em Manaus, com 3,6 km. Para Cameli, a ponte ampliará o uso da estrada do Pacífico, que une o Acre ao oceano Pacífico peruano. Inaugurada há dez anos, a via é subtilizada e ainda entrou no epicentro da “Lava Jato” peruana, que envolveu quatro ex-presidentes e provocou o suicídio de um deles, Alan García.
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