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Arnaldo Santos Filho*
Se tem uma época da vida que está presente na minha já antiga memória é o tempo de criança.
Eu fui criança numa época em que não havia tanta liberdade como se vê nos dias de hoje. Pelo menos na minha casa não.
Então eu era meio que obrigado a usar minha imaginação para buscar as mais criativas formas de entretenimento, numa fase em que as televisões haviam acabado de entrar em nossos lares (em preto e branco) e o acesso aos programas (pelo menos lá em casa) só era permitido por pouco tempo durante o dia e na hora da novela das 20hs.
Fui um moleque privilegiado por ter aprendido a ler antes dos quatro anos de idade, o que me permitia viagens inenarráveis pelo mundo das revistas em quadrinhos e livros de histórias , tais como “Robinson Crusoé” , “Alice no País das Maravilhas”, “Volta ao Mundo em 80 Dias”, “O Pequeno Príncipe” e outros.
Em relação as revistas em quadrinhos, cheguei a ter coleção delas, as quais depois de lidas e relidas, procurava acondicionar cuidadosamente em caixas de papelão e dar um jeito de guarda-las bem escondido, para evitar que um adulto insensível as descartasse sob qualquer pretexto.
Era Tio Patinhas, Mickey, Pato Donald, Zé Carioca, Mancha Negra, Pateta, Os Metralhas, além das leituras que os amigos com mais idade que eu gostavam de ler, como “O Fantasma”, “Mandrake”, “Tarzan”, “Tex”, “Recruta Zero”, “Asterix” e outras que já não lembro.
Na minha tenra idade, as revistas em quadrinhos serviam como uma divertida forma de viajar na imaginação e aprimorar o hábito da leitura, pelo qual até hoje sou apaixonado.
Ahhh como era prazerosa a leitura das aventuras daquela turma de personagens de Walt Disney naqueles anos 70 e 80. Eu e eles ficamos tão próximos que os tenho como amigos (a maioria deles) até os dias de hoje, e procurei repassar essa amizade para meus dois filhos. É uma pena que as crianças e jovens dos dias de hoje estejam tão distantes do hábito de ler.
Mas o título dessa pequena crônica já dá o rumo pra onde pretendo levar essa conversa. Na verdade, quero destacar que no mundo lúdico da leitura infantil, havia personagens que me deixavam um tanto apreensivo toda vez que com eles me deparava.
Muito mais que as incursões do “Fantasma” pelas selvas africanas na companhia de seus amigos pigmeus , o que metia certo medo era a leitura das historinhas das bruxas Maga Patalogica e Madame Min, já que ambas sempre estavam dispostas a praticar maldades contra alguém, fosse no intuito de surrupiar a moedinha n° 1 do Tio Patinhas ou atingir um desafeto com suas porções mágicas cheias de misturas escalafobeticas, como por exemplo:
“asas e coração de morcegos zarolhos, costelas do Homem de Neanderthal, cocô de Rattus rattus, olho de vidro roubado do cego Agiraldo enquanto ele dormia, três rabinhos e três focinhos de porcos , penas de rabo de pavão, três litros e um quarto de leite de camela manca .” (MANUAL DA MAGA & MIN. Editora Abril).
Esse temor infantil parece ter se incutido no meu subconsciente, e hoje em dia, já veterano, ainda me deparo com resgates da memória (afetiva?) ao encontrar algo que simbolize as bruxarias maléficas daquelas bizarras personagens.
Eu nunca consegui identificar muito bem naquelas leituras, onde moravam as bruxas Maga e Min, ja que a primeira foi “transportada” por Walt Disney do monte Vesúvio e a segunda das florestas inglesas para a cidade de “Patopolis”.
Por isso mesmo, se tem um lugar que me faz lembrar a casa das bruxas Maga e Mim, é essa casinha abandonada em Ferreira Gomes. Toda vez que olho para essa casa, minha imaginação rebusca as historinhas em quadrinhos dos tempos de criança, e minha mente se transporta para noites cinzentas e escuras nas quais Madame Mim decola justsmente de uma dessas janelinhas da parte de cima, montada em sua vassoura supersônica, para realizar um passeio rapido pelos céus da cidade de Ferreira Gomes.
Queira Deus (ou oxalá) tais passeios se restrinjam ao espaço aéreo daquele Município (onde tenho grandes amigos) , na certeza de que, pela afinidade de vizinhança, nada de mal a bruxa fará aos munícipes de lá.
Não pode é a tal vassoura pilotada pela bruxa Min direcionar seu GPS no rumo da capital. Vai que ela saiba do medo de criança que carrego até hoje e resolva a mim visitar? Vai que……
O autor
*Arnaldo Santos Filho Possui graduação em BACHARELADO EM DIREITO pelo CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ (1998) e graduação em LICENCIATURA E BACHARELADO EM GEOGRAFIA pela Universidade Federal do Amapá (1995). É especialista em DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL pela Fundação Getúlio Vargas (2001), Mestre em DIREITO AMBIENTAL E POLÍTICAS PÚBLICAS (2010), pela Universidade Federal do Amapá. Advogado, possui experiência nas áreas de Direito Civil, Penal e Trabalhista. Tem atuação na área da Gestão Pública, tendo exercido cargos como gestor, na condição de Presidente da Companhia de Eletricidade do Amapá, Secretário da Receita Estadual do Amapá e Presidente da Amapá Previdência. advogado.
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