O que há em comum entre um secretário de Estado da Saúde que se estatela no palco do Memorial da América Latina porque a perna da cadeira quebra, a primeira-dama americana Michelle Obama sem o véu shador em plena cerimônia oficial num país muçulmano e a queixa de um príncipe árabe em visita a Brasília sobre a noite mal dormida porque faltou-lhe a costumeira cama de 25 metros quadrados?
Não importa o culpado pelos atos falhos, o dedo vai apontar invariavelmente para o chefe de cerimonial.
“Pesquisem o máximo possível: hábitos, cultura, protocolo do anfitrião, apoio operacional, tudo, porque o mais improvável dos problemas acontece. É a lei de Murphy”, aconselhou uma das maiores autoridades no assunto, Gilda Fleury Meirelles, à frente da palestra que realizou a alunos de Secretariado Executivo, Relações Públicas e Assessoria Executiva na Universidade Metodista de São Paulo em 4 de novembro último em comemoração ao Dia do Cerimonialista, que transcorre em 29 de outubro.
Posicionando o cerimonial na mesma linha de importância de Marketing, Publicidade, Jornalismo e Relações Públicas de uma empresa, ou seja, dentro do departamento que lida estrategicamente com a Comunicação corporativa, Gilda Fleury é enfática na defesa da dupla protocolo-cerimonial. Trata-se, em primeiro lugar, de cultura: “Até a forma de se cumprimentar é baseada em uma razão”, disse. A relevância do cerimonial também se mede porque otimiza o resultado de um evento, define uma solenidade e facilita o relacionamento entre povos, acrescentou.
Salto na grama
Sempre recomendando cuidados extremos desde o planejamento até execução e pós-evento, a palestrante arrancou risos mas discursou em tom sério sobre gafes protocolares e imprevistos com figuras centrais de um acontecimento. Exemplo é o tombo de uma primeira-ministra da Austrália porque o salto do sapato travou na grama. “Não se coloca ninguém para andar sobre grama”, suplicou. Ou então as mesas redondas dispostas em um almoço que deixaram os convidados de costas para o palestrante. “Pelo amor de Deus! Era o caso de distribuir os convidados sentados na forma de meia-lua, de frente para o palco”, ensinou.
Um bom planejamento deve prever pelo menos três fases: detecção do público a que se destina, orçamento e estratégias. Se o público é infantil, obviamente o protocolo dispensa discurso que nomeie autoridades, por exemplo. E as estratégias vão desde evitar-se eventos na 2ª feira de manhã ou 6ª feira no final de tarde até variáveis como condições climáticas, alimento para diabéticos e perfil de participantes. “Não adianta fazer uma coletiva de imprensa às 19h seguida de coquetel porque nesse horário todos os telejornais já estão prontos e os jornalistas dos impressos têm de correr para escrever as matérias”, detalhou.
A diferença entre cerimonial e protocolo é que o primeiro se pauta por regras do agora (do evento) e o segundo, por leis, normas ou decretos fixos, conforme a nação.
Show ou pizza?
Quanto à organização, Gilda Fleury enumerou quatro etapas fundamentais: 1 – apoio operacional (quantas pessoas cabem no local?); 2 – apoio logístico (quem vai fornecer toalhas e água?); 3 – apoio de pessoal (equipes de recepção, organização, atendimento à imprensa); 4 – apoio externo (reserva de hotel, transporte, receptivo em aeroporto etc).
“Levei certa vez ao Paladium um grupo de visitantes para ver um show bem brasileiro, mas notei que eles estavam desconfortáveis. Soube depois que eram luteranos e não gostavam de ver nossas mulheres com trajes sumários. Corremos então para uma pizzaria e tudo acabou bem”, contou Gilda sobre a necessidade de se conhecer a cultura de visitantes e anfitriões.
“Não conheço no Brasil quem tenha mais carinho e compromisso com protocolos e eventos”, elogiou a coordenadora do curso de Secretariado Bilíngue e das pós em Assessoria Executiva e Gestão de Eventos, professora Ana Maria Martins, que recebeu Gilda Fleury ao lado do diretor da Escola de Gestão e Direito, professor Fulvio Cristofoli, e da professora Renata Aranha.
Gilda Fleury preside a delegação no Brasil do CSEDOHC (Conselho Superior Europeu de Doutores Honoris Causa) e o conselho consultivo do CNCP (Comitê Nacional do Cerimonial Público). É professora na área na Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) e no Ibradep (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento da Comunicação, Capacitação Profissional e Empresarial), além de autora dos livros “Tudo sobre Eventos”, Seu Negócio, Seu Sucesso” e “Protocolo e Cerimonial – Normas, Ritos e Pompa”, entre outros.
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