Cleber Barbosa, da Redação
“Os Caminhos do Amapá na Amazônia”. Este era o título do livro do repórter-fotográfico Johnny Sena, um dos mais conceituados profissionais da fotografia no Amapá, mas que faleceu esta semana sem realizar seu maior projeto. Ele vinha preparando para lançar a obra e assim marcar de forma indelével a sua carreira como jornalista. Dono de um currículo digno dos grandes fotógrafos do país, ele trabalhava duro para juntar os melhores registros da intocada natureza amapaense para a publicação que poderia alavancar as discussões sobre a vocação para o ecoturismo no Estado.
Johnny Sena dizia que ao longo dos mais de vinte anos de carreira viu suas imagens fazendo parte do acervo de agências de notícias, sites, jornais, revistas e órgãos públicos que ajudaram a divulgar seu trabalho, mas ao mesmo tempo foram separados. “Foi daí que surgiu a ideia de juntar boa parte desses registros e publicar o livro”, dizia Sena.
Versatilidade
O repórter Johnny Sena atuou em alguns dos principais jornais do país, como Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, e Amazonas em Tempo, em Manaus. “O chamado fotojornalismo é algo muito dinâmico, que nos proporciona vivenciar novas experiências todos os dias, conhecendo a realidade das ruas, a cultura, as diferenças, enfim, muita informação num espaço de tempo curto, entre uma reportagem e outra”, ensinava. Mas o que veio a fascinar o experiente fotógrafo e cunhou uma nova faceta a seu trabalho foi atuar junto à natureza. “Virei um ensaísta, uma outra ramificação da fotografia que não necessita de tanta dinâmica, mas que é igualmente apaixonante”, revelava. Ele chegava a passar meses dentro de um ambiente natural, com a infra-estrutura mínima necessária para montar um ponto de espera para registrar um animal, pessoas ou apenas esperar o lento pôr-do-sol para clicar o tom de cor ideal.
Certa vez, Johnny aproveitou que uma irmã viajou para a Guiana Francesa para enviar calendários com imagens típicas da natureza que o Amapá possui. “Foi um grande sucesso, pois os franceses até pediram mais material. Isso nos motivou a tocar o projeto do livro, pois tenho certeza de que também terá boa aceitação”, avaliava. Sena recebeu entre várias honrarias, um prêmio da Unesco, em Nova York, no Concurso “Em algum lugar do mundo”, por imagem de uma garotinha no lago do Curiaú. Entre outros feitos, ele conseguiu entrar para o rol dos poucos fotógrafos a registrar uma imagem do Topaza Pella, o maior beija-flor de que se tem notícia, o Brilho de Fogo.
As valiosas incursões de Johnny Sena na natureza
Reserva
Foi na região do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque que Johnny Sena teve as mais ricas experiências com a fauna e a flora intocada que o Amapá possui. Nos rios Anacuí e Amapari ele permaneceu semanas fotografando para matérias de jornais e revistas especializados, logo depois da criação do parque, no início da década de 2000, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Pororoca
As baterias da etapa amapaense do Circuito Brasileiro de Surfe na Pororoca, no rio Araguari, foram algo marcante na vida de Sena, que inclusive aumentou o leque de conhecimento do fotógrafo junto aos grandes nomes do esporte e da fotografia pelo Brasil e no exterior.
Indígenas
Foi nos inúmeros encontros com índios pelo interior da Amazônia que Sena aprendeu o verdadeiro espírito de como preservar a natureza e respeita-la. “Os índios são os verdadeiros ambientalistas, os guardiões da floresta”, ensinava Johnny Sena.
Para garantir que as melhores imagens, até sobrevivia na selva
Para quem se dispõe a ser um aventureiro de plantão, como o fotógrafo Johnny Sena, comer e beber são duas coisas que exigem cuidados especiais. “Sabemos que nem sempre é possível comprar água mineral por aí, portanto levo sempre um cantil e pílulas especiais de hipoclorito, para o caso de ter que usar água da floresta”, ensinava o profissional. Como bom amazônida, diz gostar de peixe, um alimento considerado como “universal” onde quer que se ande. “Mas temos o melhor preparo aqui na Amazônia, sem dúvida. Os turistas que experimentam do nosso peixe saem falando maravilhas a seus compatriotas”, disse.
Mas Johnny Sena dizia que em termos do conhecimento dos povos tradicionais da floresta, é preciso respeitar. “A gente está vendo aos poucos a medicina tradicional se curvar diante do que o caboclo do mato detém de conhecimento ao longo de séculos convivendo com a mãe natureza, algo para deixar registrado”, encerra.
Testemunho
Amigo pessoal e parceiro de Johnny Sena em vários projetos, o jornalista Apolonildo Brito certa vez foi instado a definir o perfil profissional do colega. “Poucos são os fotógrafos que colocam um ideal além de sua arte ou de seus interesses financeiros. Um desses é Adilson Johnny Mendes de Sena, ou simplesmente Johnny Sena. Ele tem se destacado em diversos meios de comunicação por capturar cenários maravilhosos do Amapá, sua grande paixão”, disse.
Foi para compartilhar essas belas imagens com a imprensa nacional, que o fotógrafo criou a Sena Photo Bank, empresa que montou em Macapá, reunindo um acervo de dezenas de milhares de fotografias do Estado. A arte de Johnny acumula vários prêmios fotográficos, dentre eles o de melhor repórter fotográfico do Amapá, além da primeira colocação no concurso promovido pela Rede Amazônica, em Manaus.
CURIOSIDADES
– Johnny Sena foi ainda finalista na promoção da ONU (Organização das Nações Unidas), “Brasil e Meio Ambiente”, onde teve foto exposta.
– Realizou cinco mostras individuais e participou de três exposições coletivas de fotografias, além de possuir fotos em cartões telefônicos da antiga operadora Telemar e nos trabalhos produzidos pelo projeto “Conheça e valorize o Amapá”.
– Sena entrou para o rol dos poucos fotógrafos a registrar uma imagem do Topaza Pérola, o maior beija-flor de que se tem notícia, o Brilho de Fogo
49 anos
Idade do fotógrafo amapaense Adilson Johnny Mendes de Sena.
Últimos registros fotográficos de Johnny Sena
Adilson Johnny Mendes de Sena (1969-2018)
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