Durante a semana, jornalistas de várias partes do país foram convidados para um evento em São Paulo, promovido pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) em parceria com a empresa médica Abbvie, para chamar a atenção sobre um vírus não só de pronuncia difícil como também altamente agressivo e que pode até ser letal, especialmente em bebês prematuros, que respondem pelo chamado grupo de risco. O Diário do Amapá esteve lá como convidado e conversou com o palestrante do evento, o Dr. Renato Kfouri, uma das maiores autoridades brasileiras sobre o vírus VSR, afinal trabalha com imunizações há 25 anos, com longa experiência em serviços de saúde públicos e privados. Os principais trechos da conversa com o jornalista amapaense Cleber Barbosa o Portal CB publica a seguir.
Cleber Barbosa, da Redação
Portal CB – Em primeiro lugar gostaríamos de dar as boas-vindas ao senhor e essa possibilidade de falar para o Amapá.
Dr. Renato Kfouri – Obrigado, é um prazer falar com os leitores do Amapá, pois é sempre importante a gente divulgar esses assuntos que são importantes também para vocês.
Portal – Bem, o senhor já esteve no Amapá?
Dr. Renato – Não, nunca estive no Amapá, mas pode me convidar que eu vou, adoro conhecer novos lugares! [risos]
Portal – Bem, falar dessa sigla – VSR – para mim como profissional de imprensa é uma palavra nova, um vírus que é objeto desse encontro aqui em São Paulo.
Dr. Renato – É, o nome já é complicado, vírus sincicial respiratório, então a gente abrevia como VSR para ficar mais fácil. É o principal agente causador de doenças respiratórias em bebês pequenos, então para aquelas mães, para aqueles bebês que estão com bronquiolite, cansaço, falta de ar, dificuldade respiratória nos primeiros anos de vida em geral é esse o vilão, esse é o vírus causador destas doenças respiratórias. O VSR é o principal.
Portal – Bem, se a gente como profissional de imprensa não tinha ouvido falar desse vírus, certamente muitos pais e mães desavisados também não, então fala sobre como é possível fazer a prevenção doutor?
Dr. Renato – É, apesar do vírus ser extremamente frequente e acometer praticamente todas as crianças, são os bebês pequenos, especialmente aqueles nascidos prematuros, ou que já tem uma doença no pulmão ou no coração, que vão desenvolver a forma mais grave da doença, com mais riscos de hospitalização, falta de ar muito grande, precisando às vezes frequentar uma UTI [Unidade de Terapia Intensiva], serviços de emergência, enfim, podem até morrer pelo VSR. Então são esses grupos, esses bebês mais vulneráveis que precisam receber prevenção.
Portal – Que se dá de que forma doutor?
Dr. Renato – A gente ainda não dispõe de uma vacina, infelizmente, mas tem uma imunização que é específica para esse vírus, pois quando esses bebês entram nessa estação, já que o vírus não circula o ano todo, aqui na região norte do país por exemplo, ele circula mais no começo do ano, de fevereiro a junho, então nessa época é muito importante que os bebês recebam a prevenção para que eles atravessem a estação protegidos.
Portal – E nessa questão da sazonalidade desse vírus há uma diretriz de que a imunização aconteça um mês antes da chamada estação, é isso?
Dr. Renato – Exatamente, um mês antes. Então como na região Norte a estação inicia em fevereiro, a imunização deve começar em janeiro. E é gratuito, viu? É muito importante deixar isso bem claro para os ouvintes, leitores e internautas, pois isso está disponível, seja na saúde complementar, os convênios, seja no SUS [Sistema Único de Saúde], repito isso é gratuito e todos os bebês devem receber essa imunização porque pode ser uma doença muito grave nessa população.
Portal – Uma dúvida que é nossa e pode ser também de outras pessoas que podem estar sendo alcançadas por essa entrevista do senhor, qual a relação do vírus VSR com as bronquites e até a asma?
Dr. Renato – Verdade, cada vez mais a gente vem lutando e os estudos vem confirmando que bebês que adquirem o VSR muito precocemente tem uma chance muito grande de desenvolver bronquite e asma no futuro. Esse episódio de chiado, essa infecção por VSR se mantém, tem uma consequência muito grande não só no curto prazo ou nesse quadro agudo, mas na manutenção, ou seja, no chiado que vai acontecer com esses bebês com frequência.
Portal – A empresa Abbvie, que foi a anfitriã desse evento aqui em São Paulo, é a única no Brasil credenciada a fornecer essa medicação?
Dr. Renato – É, no momento é um produto de um único produtor, que vem trabalhando há mais de vinte anos com esse produto, e com isso a gente tem conseguido atender hoje boa parte da população elegível desses prematuros. Mas precisamos de mais, pois estamos ainda com uma cobertura baixa, pois essa população que precisa receber a prevenção ainda não está totalmente atingida então faz parte do nosso esforço também e quero aqui agradecer vocês da imprensa pela oportunidade da gente poder falar sobre esse assunto e alcançar a todos.
Portal – No Amapá a médica pediatra Érica Aranha será a profissional habilitada e credenciada para responder pela Abbvie nessa questão de garantir a prevenção através do serviço público e os planos de saúde, não é?
Dr. Renato – Perfeito, é um prazer ter a Érica com a gente e poder ajudar também na difusão deste conhecimento.
Portal – Muito bem doutor, obrigado pela oportunidade e na SBP o senhor responde pelo Departamento de Imunizações, e imunizações com “s” no final, daí a importância dos pais e mães cada vez mais se apropriarem desses temas e protegerem suas crianças, não é?
Dr. Renato – Perfeito, obrigado pela oportunidade e foi um prazer falar com todos aí no Amapá.
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Perfil
Entrevistado. Renato de Ávila Kfouri foi presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) 2011 a 2014, especializou-se em pediatria e neonatologia no Hospital do Servidor Público Estadual e em infectologia pediátrica na Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). É membro do Comitê Técnico Assessor do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, presidente do Departamento de Imunizações da SBP, membro da Diretoria de Cursos e Eventos da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), membro da European Society of Pediatric Infectious Diseases (ESPID) e membro da Sociedad Latinoamericana de Infectologia Pediatrica (SLIPE). Dedicado às imunizações e às doenças infecciosas há mais de 25 anos, é também diretor médico do Centro de Imunização Santa Joana e da ProMatre Paulista.
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