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Em frente à cidade paraense de Óbidos, onde o Rio Amazonas tem ponto mais estreito | Foto: Mapio.net
Economia

Ponte sobre o Amazonas pode tirar Amapá do isolamento rodoviário

Cleber Barbosa, da Redação

Betral

O general Maynard Santa Rosa, novo titular da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE), da Presidência da República, disse ontem (23) em entrevista à Voz do Brasil, que o Governo Federal está lançando um projeto denominado Barão do Rio Branco, que levará obras de infraestrutura para a Amazônia, entre elas uma ponte sobre o Rio Amazonas, na região de Óbidos (PA), o que pode significar o início da retirada do Amapá do isolamento rodoviário em relação ao restante do país.

O projeto passará a integrar o programa Calha Norte, do Ministério da Defesa, que foi criado em 1985 pelo Governo Federal, diante de uma preocupação dos militares sobre a causa amazônica e a cobiça internacional sobre as reservas naturais estratégicas do país. Segundo o general Santa Rosa, o projeto Barão do Rio Branco recebeu esse nome em homenagem ao diplomata brasileiro que atuou decisivamente para a solução do Contestado Brasil-França, na definição das terras que hoje pertencem ao Amapá.

O general Maynard Marques Santa Rosa, novo titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos

Segundo ele, são três novas obras de infraestrutura para a região. A primeira, uma usina hidrelétrica no Rio Trombetas; a segunda, o prolongamento da BR 163 de Santarém (PA) até a fronteira com o Suriname; e a terceira será uma ponte elevada com 1,5 quilômetro de extensão em Óbidos (PA). É nesse ponto que o Rio Amazonas é mais estreito, com uma profundidade de 90 metros.

Ajustes

O geólogo e advogado Antônjio da Justa Feijão, que é ex deputado federal | Foto: Portal CB

Em Macapá, o portal CleberBarbosa.Net ouviu o geólogo e ex deputado federal Antônio Feijão, a respeito dos projetos em curso e os efeitos práticos para o Amapá. Ele elogiou a iniciativa da construção da ponte, mas discorda da ideia de rasgar a mata em direção à fronteira com o Suriname. “Para que gastar bilhões numa estrada que ligará o nada a lugar nenhum? Seria mais interessante investir em portos lá em Miritituba e em Macapá, para recebermos a produção de grãos do Centro-Oeste e daqui exportarmos para o mundo, afinal temos um porto estrategicamente colocado na Foz do Amazonas e na porta do Atlântico”, disse ele.

Feijão lembra que a rota entre Belém e Manaus é que poderia ser objeto de uma ligação rodoviária, tanto que chama de uma nova Transamazônica. “Neste caso uma transamazonas, pois ligaria as duas metrópoles do Norte do país, uma na foz e outra no começo da bacia amazônica, numa área que já é produtiva e que pode exercer de fato a ideia de integração regional”, alvalia o ex parlamentar federal.

Expedição

O jipeiro Claudio Carneiro, idealizador da Expedição entre Macapá e Óbidos, no Pará | Foto: Blog Sou Jipeiro

Em Macapá, a reportagem localizou também o empresário Claudio Picanço Carneiro, que há 10 anos organiza uma expedição de jipeiros, denominada Expedição CarnaPauxis, que consiste em viajar de Macapá a Óbidos para passar o Carnaval por lá. Ele diz que a ideia da construção de uma ponte sobre o Rio Amazonas é sim a possibilidade concreta de ligar o Amapá por terra com o restante do país. “A gente sai daqui de Macapá até Laranjal do Jari, na fronteira com o Pará, depois atravessa de balsa até Monte Dourado e de lá seguimos até Almerim. Depois pegamos uma balsa até Monte Alegre e de lá acessamos os demais municípios, como Óbidos e Alenquer, onde existem inúmeras atrações turísticas”, diz o aventureiro.

Leia também:

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Acompanhe o áudio com a manifestação do general Santa Rosa na Voz do Brasil

Perfil

Aspecto da cerimônia de posse do general Santa Rosa (segundo à direita) no Palácio do Planalto | Foto: Alan Santos/PR

Santa Rosa disse que, a partir de agora, a pasta será uma estrutura para “reflexão do Estado” e retomará o pensamento estratégico, segundo ele “esquecido” há três décadas no Brasil. “Quando o assunto for a estratégia nacional, é preciso que tenha continuidade e que sejam alinhados os principais centros de conhecimento do País, de forma a, diariamente, pensar o presente e o futuro”, afirmou o general, que recebeu o cargo do cientista político Hussein Kalout.

Maynard Marques de Santa Rosa é general reformado do Exército, formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Resende/RJ). Em seus 49 anos na ativa, serviu em 24 Unidades Militares do Território Nacional. Possui mestrado pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Rio de Janeiro e doutorado em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, também do RJ. No exterior, graduou-se em Política e Estratégia, em pós-doutorado no U.S. Army War College (Carlisle/PA, 1988/89).

Braço internacional

A estratégia, segundo o texto de Santa Rosa, visa “quebrar o braço nacional desse movimento, por meio de um controle estrito sobre as ONGs internacionais que operam no Brasil e suas subsidiárias nacionais”. Ele argumenta que “essa estratégia implica estancar as transferências de recursos públicos para as ONGs indigenistas e ambientalistas.”

Secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa no governo Lula, Santa Rosa, já naquela época, condenava a atuação de ONGs na região amazônica, assim como o que considerava “excessiva a demarcação de terras indígenas.”

Integrantes do governo negam que o Projeto Barão do Rio Branco tenha relação com o chamado “Triplo A”, citado em diversas oportunidades por Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral como uma “ameaça à soberania nacional”. Técnicos envolvidos no desenvolvimento do projeto afirmam que todo o programa estará amparado na sustentabilidade e reforçam que serão encomendados estudos de impacto ambiental.

Fundação Gaia

A ideia do “Triplo A”, citada diversas vezes por Bolsonaro, é creditada ao colombiano Martín von Hildebrand, fundador da Fundação Gaia Amazonas, sediada em Bogotá, capital do país. Chamada de “Triplo A” ou “Corredor AAA”, proposta consistiria na formação de um grande corredor ecológico abrangendo 135 milhões de hectares de floresta tropical, dos Andes ao Atlântico, passando pela Amazônia — daí os três “A” do nome.

Colaboração: O Globo, com Jeso Carneiro

 

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