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Comandante do BOPE, tenente-coronel Paulo Matias, concede entrevista no rádio | Foto: Bruce Barbosa
Entrevista

“Se fosse para entrar e eliminar os quatro o Bope também estava pronto”

Durante a semana que passou, mais um caso de assalto com reféns chamou a atenção e dividiu a opinião da sociedade a respeito da cobertura que tais eventos recebe por parte da imprensa. No meio da crise, um dos bandidos decide telefonar para a Diário FM, fazendo exigências como a presença da imprensa, dos familiares, coletes a prova de bala e até da Comissão dos Direitos Humanos. Ontem, o comandante do Bope foi ao rádio, concedendo esclarecedora entrevista ao programa Conexão Brasília, no Sistema Diário. O tenente-coronel Paulo Matias organizou inclusive uma palestra para a próxima quinta-feira, quando o Batalhão irá repassar valiosas dicas e dividir com os jornalistas detalhes da filosofia e técnicas empregadas no gerenciamento de crises como a que foi registrada em Macapá.

Betral

Cleber Barbosa, da Redação

Blog do Cleber – Quando o senhor entrou para o Bope coronel?
Paulo Matias – Olha, na verdade fui um dos fundadores do Batalhão, pois como a minha formação foi feita fora do Amapá, em Pernambuco, assim como tantos outros oficiais naquela época, fomos designados para vários estados diferentes, especialmente onde houvesse unidades especializadas em operações especiais. Então cada oficial passou uma semana nesses batalhões, estudando, pesquisando e levantando todas as informações necessárias para fazer a implantação de um batalhão nesse porte. A partir daí, em nosso retorno, fizemos um relatório dos pontos positivos e negativos a respeito das possibilidades para a implantação do Bope aqui no Amapá. Esse relatório foi a base para a definição do planejamento que levou ao decreto que instituiu o 5º Batalhão de Polícia Militar.

Diário – Em que ano foi isso coronel?
Matias – Foi em 2002, quando realizamos a primeira operação do Bope, lá em Oiapoque, quando ainda usávamos uma calça cinza com a camisa preta, além de uma toquinha preta, num embrião daquilo que temos hoje, um Batalhão de Operações Especiais, com cinco Companhias. Mas, aquele relatório inicial já apontava que para ter sucesso o Bope deveria investir em seus integrantes, mandando-os para fora do Estado fazer cursos e treinamentos e garantir uma renovação de conhecimentos.

Diário – E onde esses treinamentos aconteceram?
Matias – Logo após a implantação do Bope alguns oficiais e praças foram para Goiânia e fizeram o curso da Rotam, tanto que logo após esse treinamento nós implantamos a primeira companhia de Rotam aqui no Estado, trazendo essa doutrina, esse conhecimento de patrulhamento motorizado, uma técnica de patrulhar de forma diferenciada, que logo num primeiro momento nas ruas e avenidas da cidade de Macapá as pessoas não estavam acostumadas com a nossa modalidade de patrulhamento, com o policial sempre atento, com a cabeça para fora [da viatura] e olhando para a retaguarda e até encarando às vezes as pessoas.

Diário – É, as pessoas estranharam bastante e teve até quem reclamasse.
Matias – Sim, mas na verdade tudo aquilo envolve uma doutrina, uma técnica, portanto existe uma explicação, um porquê para tudo, tanto que três meses depois começaram a aparecer os frutos que a gente havia plantado, com os resultados desse tipo de patrulhamento, com a sociedade passando a atender tanto que hoje a gente tem até problemas para atender a tantas solicitações de apoio do Bope, que é uma força especializada que atua no apoio aos batalhões de policiamento de área como também do Comando Geral da Polícia Militar que pode também nos requisitar, como está acontecendo agora numa grande operação lá em Oiapoque.

Diário – Comandante, quem na verdade pode determinar o emprego do Bope em qualquer operação, somente o comandante geral da PM?
Matias – Bem, existem duas situações. Essa determinação pode vir do comandante-geral ou através do governador do Estado, como foi o caso recente da enchente em Laranjal do Jari. A determinação dele foi no sentido de apoiar no policiamento local por conta de que estavam ocorrendo muitos roubos, muitos furtos, então as pessoas estavam com medo de deixar as suas casas trancadas, mesmo debaixo d’água, e no outro dia retornar e encontrar suas coisas saqueadas ou levadas mesmo. Foi para dar essa retaguarda à unidade da área, o 11º Batalhão.

Diário – Tecnicamente se diz que o governador exerce a função de comandante em chefe da Polícia Militar, não é?
Matias – Exatamente, então quando na verdade existe uma demanda de interesse do estado e o chefe do Executivo sente esse necessidade logicamente que chama o comandante-geral da Polícia Militar e determina [o emprego], então são as duas pessoas que tecnicamente mandam no Batalhão de Operações Especiais.

Diário – Por falar em situações extremas, durante esta semana a gente teve mais um registro de assalto com refém aqui em Macapá, que registrou um caso polêmico em que o bandido telefonou aqui para a emissora, como também circulou um vídeo nas redes sociais que seriam eles muito à vontade na casa das vítimas. Como foi isso coronel?
Matias – Pois é, o vídeo é autêntico, eles estavam de posse de celulares, tinham sinal de internet e tudo. Não é a primeira vez que isso acontece, com os bandidos fazendo postagens nas redes sociais. Eu até queria aproveitar a oportunidade para convidar a todos os profissionais de imprensa aqui do estado para estarem conosco na próxima quinta-feira, às 9 horas da manhã, no auditório do Comando Geral, quando teremos a palestra “O papel da imprensa no processo de gerenciamento de crise”. De antemão, digo que é fundamental a participação da imprensa nesse encontro, para a divulgação dessas informações para a sociedade.

Diário – O caso em questão dessa semana tivemos novamente entre as exigências dos bandidos a presença da imprensa no local, é neste sentido que o senhor acha importante nivelar essas orientações aos jornalistas?
Matias – Exatamente, naquele caso tínhamos também a presença de todos os familiares dos perpetradores daquela crise, lá no local. Como eles chegaram lá, tão rápido? É que além deles terem ligado para a família, alguns parentes chegaram lá porque escutaram através do rádio ou da televisão que transmitiam tudo ao vivo. Então são várias orientações importantes, desde o isolamento da área que é feito, um ou mais quarteirões são isolados, o trânsito fica complicado, então são informações igualmente importantes e necessárias para a sociedade numa situação de crise. Então o evento na verdade será um bate-papo com os profissionais da imprensa em que vamos abrir um pouco a nossa caixa preta de gerenciamento de crise, afinal a gente evita repassar algumas informações que não podem cair para o público comum por serem questões táticas, estratégicas que numa situação dessas a gente tem que usar de todos os meios disponíveis para solucionar o caso, e de uma maneira aceitável pela sociedade. Até porque se fosse para entrar naquela casa e eliminar aqueles quatro indivíduos o Bope também estava pronto. Mas não é isso que a gente quer, na realidade o gerenciamento de crise um de seus objetivos é salvar vidas e aí quando a gente diz salvar vidas, primeiramente a do policial, pois a gente tem que ter todo um preparo técnico e psicológico, bem como equipamentos individuais para nossa proteção, pois imagina se um policial vai atender uma ocorrência dessa, leva um tiro e morre, olha o desespero que causa na sociedade, que diz “se já morreu um policial, imagine os reféns”.

Diário – E depois viriam as vítimas dos bandidos e os próprios marginais, claro.
Matias – Sim, mas é bom que se diga que em toda a história do nosso Batalhão até hoje aqui no estado do Amapá nas inúmeras crises que nós atendemos temos a honra de dizer que foi 100% de sucesso, logramos êxito.

Perfil…

Entrevistado. José Paulo Matias dos Santos tem 49 anos de idade, é amapaense, casado e pai de dois filhos. Ingressou na Polícia Militar do Amapá em 1992, como soldado. Entrou para a Academia de Polícia de Pau D’Alho (PE), onde graduou-se Bacharel em Segurança Pública, sendo declarado Aspirante-a-Oficial no ano de 1999. Galgou os demais postos da carreira militar, realizando todos os cursos como Aperfeiçoamento de Oficiais (CAO), em Brasília, o Curso Superior de Polícia (CSP) na Escola de Administração Pública, bem como o Curso de Operações Especiais, na COE-SP. Teve passagens ainda como coordenador do IAPEN, DETRAN e SEJUSP e comanda pela segunda vez o BOPE (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Amapá).

 

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