Por CLÁUDIA GAIGHER
GLOBO REPÓRTER
Um pedaço do Brasil misterioso, isolado e, com certeza, pra lá de cobiçado. Quase do tamanho do estado do Rio de Janeiro – inteiramente coberto de mata virgem, árvores imensas, rios e cachoeiras.
Estamos cada vez mais curiosos. Só dá para chegar lá de helicóptero, partindo de Macapá, a capital do Amapá. Protegido pelo isolamento, o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque foi criado há dez anos guardando valiosos segredos nunca revelados.
Um grupo vai na frente para abrir caminho pra nossa expedição. Contamos com os pilotos experientes do batalhão de aviação do Exército na Amazônia. Não vamos desmatar. O plano é procurarmos uma clareira natural no meio da mata fechada, cercada por árvores imensas.
Só mesmo com a experiência destes homens treinados na selva – vamos com toda a segurança. São 16 militares do batalhão do Amapá. O lugar foi escolhido com imagens de satélite pela pessoa mais indicada para a missão quase impossível.
Christoph Jaster, alemão, naturalizado brasileiro, ele é o guardião do parque. “A prioridade é conseguir descer com a aeronave em solo, a gente conseguir colocar o pessoal no chão”, diz.
E quem é o pessoal que vai com a gente, além dos militares? Um pequeno batalhão de cientistas. Renner Baptista, doutor em aranhas. Jucivaldo Dias, doutor em répteis e anfíbios. Mike Hopkins, especialista em plantas. Luiz Coltro Junior, doutor em aves. Cecile Gama, especialista em peixes. Cecile é casada com o Christoph, o diretor do parque. Ele é engenheiro florestal.
Além dos pesquisadores, também temos a ajuda de guias experientes, que cresceram na Amazônia: Preto. Tio Zé e Taco. Viajar de helicóptero pra eles é mais assustador do que desbravar a mata secreta.
Vamos numa poderosa máquina voadora: o “black howk”, o mais veloz das forças armadas. A bordo, somos 14 pessoas. E uma carga pra lá de pesada. Levamos mais de 11 toneladas de equipamentos. Silêncio no ar. Quase dá pra gente ouvir pensamentos. É tanta ansiedade.
Um “tapete verde”, sob a ótica da jornalista
Nossa primeira imagem é o tapete verde, denso. Provocador. Duas horas de voo e, enfim, a clareira. Por uma semana, o pequeno descampado na floresta será o nosso endereço: Eis que começa a nossa aventura no Tumucumaque. Esta é uma região de mata fechada, onde nunca foi feita uma expedição científica. Muito menos de reconhecimento. O caminho é pelo meio da mata, para chegar até o acampamento. Foi necessário levar tudo, comida, gerador. Esta é a Amazônia original, por isso a expectativa é muito grande para saber o que existe na região. Vamos ver o que a gente vai encontrar.
O Tumucumaque fica a 308 quilômetros de Macapá, a capital do Amapá. No lado oeste do parque. Bem no coração da floresta amazônica. Tumucumaque é protegido por montanhas gigantes chamadas de “escudo das Guianas”. A espetacular formação geológica se estende pelo Brasil e quatro países vizinhos: Suriname, Venezuela e as duas Guianas. O tesouro escondido nas matas e nos rios guarda valiosos minerais. E o ouro é a maior ameaça ao nosso parque.
A força da natureza chama a atenção de experientes cientistas
É impressionante a demonstração de força da natureza. A todo instante encontramos árvores gigantescas de 40, 50 metros. Um angelim vermelho, por exemplo, até parece uma porta como se a gente pudesse entrar. E quando olhamos para cima, são metros de tronco. O bosque de “angelins” cresce em busca de luz. Árvore de madeira dura resistente a insetos, leva mais de cem anos pra ficar desse tamanho.
Os nossos pesquisadores encontram flagrantes. No meio do mato, a clareira aberta pela queda de um angelim centenário. E essas árvores finas são oportunistas, podem ficar décadas com jeito de mudinhas novas. Esse é um dos segredos da Amazônia. Há sempre uma “nova” floresta esperando para nascer. Esperando para crescer.
“Esta, por exemplo, ela é fininha, não é? Mas olha só. Ela está subindo. É um cipó, vai até o céu “, explica Mike Hopkins, botânico do INPA.
O botânico veio do País de Gales visitar a Amazônia. Percebeu o quanto tinha a pesquisar e decidiu ficar. Lá se vão quase 30 anos de Brasil. Olhar treinado. Procura e acha preciosidades. Como uma árvore gigante, que tem uma raiz muito forte. Parece uma parede de madeira, mas os pesquisadores dizem que é uma raiz de sustentação, como se fosse um cabo de aço para manter a árvore tão alta.
É uma faveira de um tipo aparentemente novo. O mateiro Taco vai subir. Ele usa a peconha, uma tira nos pés para se firmar no tronco. “Você vai pegar o que lá em cima?”, pergunta a repórter Cláudia. “Vou tentar achar as flores dela”, responde Taco, assistente de campo.
Nas flores os cientistas encontram o aparelho reprodutivo, fundamental para identificar as espécies. Taco sobe na árvore ao lado, quer chegar à copa da faveira. As flores estão lá em cima.
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